Do horizonte vê-se o mar

jun 5, 2020 | Diorama, Eventos, Exposições, Notícias

A exposição do Horizonte vê-se o mar – Coletiva Olhavê, realizada na DOC Galeria em São Paulo, no final de 2016, foi resultado do grupo de estudo orientado por Alexandre Belém entre 2014 e 2016.

Participaram os artistas André Conti, Gabriela Oliveira, Jane Paris, Katia Kuwabara, Ligia Jardim, Montserrat Baches, Paula Pedrosa, Pedro Chavedar, Sônia Júlio e Thays Bittar.
Diorama foi o projeto que apresentei.

A exposição foi realizada pelo Olhavê, de Alexandre Belém e Georgia Quintas, e é dela o texto que se segue:

foto: Rebeca Figueiredo

O caminho por criar imagens antecede o desejo da ideia, a qual urge por materializar-se; da forma ávida, que se coloca urgente, para tão logo se anunciar em forma de obra. No terreno movediço da criação, o processo é a rota menos concreta, pouco firme de certezas. O processo é o âmago da voz contida das imagens entorpecidas em nós mesmos. Aprisionados em nossas perspectivas mais profundas, em nossas questões mais complexas, “projetar” trabalhos autorais é todo tempo destramar conflitos, abrir espaços, associar o toque pela vista, juntar e coser possibilidades. Talvez seja ainda mais, seja amarrar bem forte em nó espesso (contudo invisível) a vontade de enxergar o que está o tempo todo dentro e fora da paisagem – pela qual almejamos encontrar nela a poesia de sentir o significado sob e sobre as coisas do mundo.

O movimento em escavar histórias para narrar gera o traço que rasga e abre o imaginário. Que corrói por meio da angústia a feição do que é seu (particularmente seu) perante o olhar do outro, que mitiga a sua vontade (nunca verdade) para a indiscreta arbitrariedade de quem lê a poética visual parida por desejo, angústia, procura, pergunta, resposta, tempo passado, tempo presente, memória rompida, lembrança regada, viagem mentira, arquivo vivo, azul precioso, pedras consumidas, pessoas caídas, cabelos entrelaçados. O fôlego em compreender o estado de criação não está tão somente em apreender os porquês. Está sobremaneira, e deveras mais profundamente, na relação com a paisagem íntima jogada ao mar; na esperança de encontrar no outro o complemento de sentido, ou não-sentido, seja o que for de possível a preencher a imagem lânguida à espera de anzol. Ou seja, à espera da fruição metafórica de um outro devir olhar.

Nem sempre o projeto está finalizado, de certa maneira são sinais para adiante, são estudos, formas a se alinhar para a construção poética de cada autor. Estão todos aqui, soprando o mar para avistar o vento. Se pondo firmes, cada qual em seu desejo mais íntimo e íntegro, a buscar nuances narrativas desde linhas de pesquisas, conceitos, enunciados e inclinações estéticas das mais diversas. Todos aqui, se colocam nesse lugar que ajuda a expandir a metafísica do olhar e da alma, o qual do horizonte vê-se o mar.

Georgia Quintas

Fotos: Rebeca Figueiredo e Katia Kuwabara